Gostaria de agradecer
publicamente ao cacique João Venâncio e ao pajé Luis Caboclo, do Povo Tremembé
(como gostam de ser identificados), pela aula de história e etnologia proferida
no último dia 18 para os alunos do curso de Ciências Sociais da UVA (a grande
maioria deles, recém egressos no curso).
Pela atenção da plateia
durante a fala das duas lideranças indígenas, pelas dúvidas, perguntas e
debates suscitados ao longo desse encontro que, se não fosse pela limitação do
tempo se estenderia ainda mais, ficou evidente a importância desse tipo de encontro
para tentarmos superar esse fosso de desconhecimento que ainda persiste em grande
parte da nossa população acerca dos processos históricos protagonizados pelos
povos indígenas ao longo desses cinco séculos de “Brasil”.
Como antropólogo, professor e
indigenista, fiquei muito feliz porque pude ver um lado positivo do
desconhecimento dos nossos alunos, aquele que se traduz em curiosidade que se
abre para conhecer nossa “alteridade próxima”; quando se permite que esse outro
(tão perto e ao mesmo tempo tão distante) possa falar de si próprio, desconstruindo
visões, imagens e representações estereotipadas e anacrônicas.
Se levarmos em consideração
que os Tremembé de Almofala constituem apenas uma parte da história desse povo
(ainda temos os Tremembé do Córrego João Pereira, de Queimadas, da Barra do
Mundaú, de Raposa no Maranhão), chegaremos a conclusão de que temos um longo
caminho a ser trilhado se quisermos realmente saber a história indígena das dezenas
de povos espalhados pelo nosso Ceará, para ficarmos só aqui no nosso estado
(imagina no Brasil...).
Além do exercício de desconstrução,
oportunidades como estas também nos mostram o fato de que os capítulos de nossa
história sobre os índios pode e deve ser revista, reescrita e ampliada (e bote
ampliada nisso).
Por fim, confesso que sou admirador
de João Venâncio e Luis Caboclo pela maestria com que lidam com esses encontros
e a maneira segura e altiva com que ocupam esses espaços, inclusive o espaço acadêmico,
e com seu modo próprio comunicam sua mensagem. Tudo isso com muito bom humor e
espontaneidade.
Não é por acaso que os dois
são mestres, “mestres da cultura”...
Obs: Todas as fotos desta postagem são de Tiago Silva Bezerra