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O Plano Plurianual 2012-2015 enviado ao Congresso Nacional no final de
agosto está dividido em 65 programas temáticos, com 491 objetivos e 2.503
iniciativas. Para sua execução, o Governo federal prevê um investimento global
de aproximadamente R$ 5,4 trilhões. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)
e o Plano Brasil Sem Miséria (PBSM) são anunciados como as duas
principais prioridades do PPA, que serão objeto de tratamento diferenciado ao
longo dos quatro anos. Visto no conjunto, o novo PPA revela uma vontade de
trabalho ambiciosa, com factibilidade ainda por ser verificada.
Com uma população estimada de 817.963 pessoas (IBGE, 2010), das quais
502.783 vivendo na zona rural, os povos indígenas são contemplados no novo PPA
com um programa temático específico, contendo nove objetivos. Intitulado de Proteção
e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas no Brasil, nele o Governo prevê
realizar um gasto global de R$ 3,676 bilhões. Em 2012, o orçamento proposto é
de R$ 793,107 milhões, dos quais R$ 690,650 milhões para ações da Política de
Saúde Indígena.
Se autorizado esse valor pelo Congresso Nacional, o orçamento desse
programa em 2012 será comparativamente superior ao seu orçamento nos últimos
quatro anos. Mas ocorrerá não por um aumento real de investimento, mas pela
incorporação da ação de saneamento. Agora, se somarmos o que está previsto ser
gasto em 2011 no programa de Proteção e Promoção dos Povos Indígenas,
mais o orçado na ação de Saneamento Básico em Aldeias Indígenas, veremos
que o orçamento proposto pelo Poder Executivo para 2012 é cerca de R$ 27,4
milhões menor que o de 2011.
Além do programa Proteção e Promoção dos Direitos dos Povos Indígenas
no Brasil, os povos indígenas aparecem como público alvo em 20 outros
programas. Entre as mudanças promovidas nesse programa, uma é a inclusão da
palavra “Direitos” no título; outra, é a inversão na ordem nas palavras
“Promoção” e “Proteção”. Além disso, tivemos a incorporação da ação Saneamento
Básico em Aldeias Indígenas para Prevenção e Controle de Agravos. Também a
criação de uma ação destinada aos indígenas “de recente contato”, com dotação
orçamentária específica.
Para quem acompanha a elaboração e a execução dos planos
Plurianuais ao longo da última década fica evidente que várias iniciativas
contidas no PPA 2012-2015 não são de fato novas. Algumas são extensões de ações
iniciadas em anos passados, outras estão ligadas a políticas de execução
continuada, como é o caso da saúde indígena. Há temas novos, que
emergiram com força nos últimos anos, com o REDD+ e o PSA, e que dão um novo
colorido às iniciativas de gestão ambiental e territorial nas Terras Indígenas.
Mas o que segue firme o seu rumo é a pressão sobre os chamados recursos
naturais, presentes nos territórios indígenas.
Motivo de preocupação de uns e apreensão de outros, a
mineração em terras indígenas e o licenciamento ambiental de empreendimentos
aparecem no novo PPA como metas específicas do Governo Federal. A aprovação do
Projeto de Lei que trata da regulamentação da mineração em Terras Indígenas é
uma meta do programa Gestão Estratégica da Geologia, da Mineração e da
Transformação Mineral, sob a guarda do Ministério das Minas e Energia (MME).
Além disso, no programa Licenciamento e Qualidade Ambiental, sob a
responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o governo quer promover
o que chama de “aprimoramento dos mecanismos de licenciamento de empreendimentos
com impactos em terras indígenas e comunidades tradicionais”. A Fundação
Nacional do Índio (FUNAI) também tem metas específicas para o licenciamento:
além de “viabilizar a participação indígena”, diz que pretende regulamentar a
sua atuação como agente interveniente nas definições do componente indígena no
âmbito do Licenciamento Ambiental.
Em nenhum momento é mencionada a aplicação do Direito de
Consulta Prévia, Livre e Informada (CPLI) dos Povos Indígenas, de conformidade
com o estabelecido na Convenção 169 da OIT, com poder de Lei no país desde
2003.
No tocante ao direito territorial dos povos indígenas, o
Governo Federal estabeleceu como meta delimitar 56 terras no quadriênio, 21 na
Amazônia Legal e 25 nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Prevê também
emitir 45 portarias declaratórias da posse indígena de terras tradicionalmente
ocupadas, o equivalente a 51% do número de portarias emitidas nos oito anos do
Governo Lula da Silva, e a constituição de 8 reservas indígenas (“para atender
os casos de maior gravidade de povos indígenas confinados territorialmente ou
desprovidos de terras”). Estabelece, ainda, a meta de homologar 40 terras
demarcadas, 24 localizadas na Amazônia Legal – isso equivale a 52% das
homologações assinadas pelo presidente Lula. O PLOA 2012 propõe um orçamento de
R$ 20,270 milhões para a ação de Delimitação, demarcação e regularização de
Terras Indígenas.
O novo PPA prevê a realização de estudos e a localização de
povos indígenas isolados, complementada com a estruturação de unidades
descentralizadas da FUNAI e de frentes de proteção etnoambiental. Também a
formulação de uma política específica de proteção e promoção aos povos
indígenas recém contatados; a implantação dessa política em 11 terras indígenas
jurisdicionadas às Frentes de Proteção Etnoambiental da FUNAI; e o
monitoramento e avaliação dos impactos das demais políticas governamentais e
não governamentais nessas 11 terras indígenas. Ela está direcionada aos grupos
potencialmente afetados por obras de infraestrutura e aos grupos cujos
territórios estão sendo objeto da cobiça de madeireiros, garimpeiros e do
narcotráfico. Aos povos isolados, o PLOA 2012 propõe um orçamento de R$ 3,200
milhões; aos de recente contato, R$ 900 mil.
Promover a chamada gestão ambiental e territorial nas terras
indígenas é outro objetivo previsto no novo PPA. Isso inclui a realização de
uma Conferência Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras indígenas;
a realização de diagnósticos da agrobiodiversidade local entre os povos Guarani,
Khraô, Paresi e Xavante; e a estruturação de oito arranjos produtivos locais o
acesso aos mercados e geração de renda (cinco na Região Norte e três no
Nordeste). Fala-se ainda na implantação de 80 projetos de gestão ambiental; a
implementação de 51 planos de gestão ambiental e territorial; e a implantação
de processos e projetos de etnodesenvolvimento em 678 terras indígenas (46% na
Região Norte). Associado a isso está a formação continuada de 300 gestores não
indígenas e 300 indígenas. Em outro programa, intitulado Agricultura Familiar,
encontramos a meta de contratar serviços de Assistência Técnica e Extensão
Rural (ATER) para 15 mil famílias indígenas, sendo 6 mil na Região Nordeste e 4
mil na Região Norte. Ainda, a qualificação de 300 agentes de ATER para atuar
junto às comunidades indígenas. O programa Biodiversidade também prevê uma
série de metas e iniciativas relacionadas com os conhecimentos indígenas e o
uso da biodiversidade nos territórios indígenas, com fins comerciais, e nos
diferentes biomas.
O desmatamento é outro tema enfatizado no novo PPA. No
quadriênio 2012-2015, o Governo Federal está se comprometendo com a meta de
monitorar 20 terras indígenas com altos índices de desmatamento. Com esse fim,
pretende estabelecer acordos de cooperação técnica com o objetivo de combater o
desmatamento, os incêndios florestais e outros ilícitos socioambientais nos
territórios indígenas. Diz também que quer criar o que chamou de “componente
indígena” no âmbito da Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC), assim
como promover uma maior participação indígena nas discussões e decisões
relacionadas com a regulamentação do REDD+ e do pagamento por serviços
ambientais. A elaboração de metodologias e parâmetros técnicos para um sistema
de pagamento de serviços ambientais, para comunidades indígenas e outras
populações rurais, é previsto no programa Agricultura Familiar. A execução
desse programa é de responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA).
O Projeto de Lei Orçamentária (PLOA) de 2012 prevê para a
FUNAI, no âmbito do Programa Temático Proteção e Promoção dos Direitos dos
Povos Indígenas, um orçamento global de R$ 98,492 milhões. Na tabela a seguir
apresentamos os valores propostos pelo Poder Executivo para serem aplicados na
regularização fundiária e na gestão ambiental e territorial das Terras
Indígenas.
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