Fonte: www.conexaonet.dihitt.com/
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Os últimos dias foram de
tristeza, mas também de alivio para a família da liderança indígena Manoel Félix do
Nascimento, mais conhecido como Grosso Tremembé, falecido ontem,
sexta-feira, após meses de luta contra um câncer. Após se submeter a várias
sessões de quimioterapia, Grosso apresentou alguma melhora, mas nos últimos 15
dias seu quadro se agravou e foi liberado pelos médicos, já que sua situação
não apresentava alternativas.
Eleito vereador pelo
município de Itarema em 2012, Grosso Tremembé logo se destacou por sua atuação
política e pelo carisma, despertando a admiração e o carinho não somente dos
Tremembé, mas também da população do município. Em visita a Almofala, durante o
período que lutava pela vida, pude constatar pessoalmente manifestações de
solidariedade e de preocupação de vários moradores de Almofala. Nos últimos
dias, a casa da família foi visitada por centenas de pessoas, desde parentes
indígenas, moradores de várias localidades, até políticos locais.
Início do cortejo Foto: Ronaldo Santiago
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Sepultamento Foto: Ronaldo Santiago |
Despedida Foto: Ronaldo Santiago |
Seu sepultamento ocorreu neste
sábado, 26/07, no cemitério da comunidade da Varjota, local onde nasceu e viveu
durante toda a sua vida. Centenas de pessoas, algumas delas visivelmente
emocionadas, acompanharam o cortejo até o cemitério.
Nos solidarizamos com a dor
da família, em especial, seu pai, o pajé Luis Caboclo, que com uma força
indescritível e com resignação, acompanhou todos os detalhes do sepultamento do
filho.
Como uma singela homenagem, transcrevemos
abaixo alguns depoimentos de parentes e amigos que expressaram a dor pela perda
e manifestaram seu carinho e admiração pelo amigo.
“Esse foi e vai ser sempre um
grande homem, guerreiro, prestativo, humano, pessoa super do bem... Você fez
historia, primeiro vereador indigena Tremembé, foi com muito esforço que
conseguimos essa grande conquista. Com certeza você vai ser sempre lembrado
como um grande vencedor! Hoje foi seu ultimo dia conosco em matéria, mas em nossos
corações você vai permanecer eternamente”.
Lucinha Tremembé, agente de saúde e liderança
Tremembé da Passagem Rasa
"Amigos,
Com pesar, conformação e
esperança, comunico a passagem do nosso
amigo professor Manuel Félix do Nascimento, o "Grosso", filho do pajé
Luis Caboco, neste dia, às 11h00, em sua casa, na comunidade tremembé de
Varjota, Itarema/CE.
Ele foi um brilhante aluno do
Curso de Magistério Indígena Tremembé Superior - MITS, destacando-se no estudo
e no ensino da Matemática às crianças e jovens indígenas.
Foi presidente do Conselho
Tutelar de Itarema e o primeiro vereador indígena da história do Ceará.
Era uma pessoa bem humorada,
inteligente, amiga, solidária.
Grosso lutou bravamente
contra um câncer. Nunca se entregou à doença,
nem se intimidou diante da morte. Um exemplo de luta e solidariedade. Se fez querido unicamente por suas virtudes.
Sua partida, tão precoce, nos deixa um pouco
tristes, mas também fortalece em todos nós, amigos do seu Povo, a certeza de
que os Tremembé são uma gente guerreira, como eles mesmos dizem: "Nós
brandeia, mas não arreia".
Um grande exemplo para todos. Até breve, amigo!"
Babi Fonteles, professor da UFC e coordenador do Magistério Superior Tremembé - MITS
“Vi meu bom amigo ser
enterrado na areia, atras de sua casa. No mesmo solo em que nasceu, brincou,
cresceu, trabalhou e viveu. Respeitando suas crenças e valores, foi enterrado
sem esquife. Sem barreiras entre seu corpo e a terra que o alimentou.
Cavaram fundo a areia, como se
pudéssemos enterrar junto com o seu corpo, a dor que a sua ausência impõem.
Grosso Tremembé me ensinou
muitas coisas... Me ensinou a ter esperança, mesmo quando tudo diz o contrário.
Me ensinou que o respeito é
maior que a aceitação.
Me ensinou que a força não
depende do quanto você pode carregar, mas sim do quanto você pode compartilhar.
O pouco é muito.
Alguns consideraram o meu
trabalho um esforço, mas acompanhá-lo em seu martírio foi um privilégio...
Agradeço a sua família por me
cederem uma rede em sua varanda, sua tapioca e o peixe assado que me
alimentaram durante estes quinze dias em que pude viver intensamente a dor e a
luta deste nobre amigo.
Obrigado meu irmão.
Obrigado por me mostrar que a
nossa força pode ser o que nos fragiliza, mas também é o que nos faz únicos,
uns na vida dos outros”.
Rafael Sacramento, médico da
equipe de saúde indígena Tremembé
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