segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quintais Produtivos: os primeiros resultados na aldeia Queimadas

Antes de falar sobre o tema desta postagem, gostaria de contar uma historinha, só a título de contextualização...
Pouco tempo antes de ser convidado para trabalhar com os índios Tremembé de Queimadas e Telhas conheci uma propriedade cujo agricultor trabalhava seguindo os princípios da Agroecologia. Enquanto caminhávamos pelo sítio, ele contava que antes de aprender a manejar a terra a partir dos princípios da agricultura ecológica, havia realizado grande estrago nos recursos naturais disponíveis na terra. Somente ao chegar a esta constatação, é que ele passou a ter um outro olhar sobre a terra, o meio ambiente, o trabalho... sobre sua vida!
Até então eu não me ligava muito nestas questões, mas quando cheguei em Queimadas, no fim de julho de 2009, tinha certeza de que seria através desse caminho alternativo de desenvolvimento local, cujas questões produtivas estão intimamente ligadas as preocupações ambientais e culturais, que as aldeias Tremembé conseguiriam superar as dificuldades existentes ali.
O primeiro desafio a enfrentar era produzir alimentos para suprir as necessidades das famílias para depois pensar em mecanismos de geração de renda. Nesta época, nas Queimadas, não havia ainda a prática de plantar outras culturas além da tríade: feijão, milho e roça. Já existiam abundantes cajueiros, mas só isso. Era a partir desses quatro itens que as famílias retiravam uma parte de seu sustento. A outra vinha dos programas assistenciais como Bolsa Família e de cestas básicas enviadas pela FUNAI e eventualmente doadas pela prefeitura.
A maioria dos homens trabalhava nos lotes do Perímetro Irrigado; ganhavam pouco e ainda estavam submetidos aos riscos de agrotóxicos e fertilizantes químicos. Tinham terra, mas trabalhavam na terra alheia; enriquecendo outros e empobrecendo a própria saúde!
Foi aí então que com a ajuda do Tiago, que através da filha do prefeito, consegui trazer para trabalhar conosco e iniciamos um projeto pequeno, modesto, sem recursos, onde propomos às famílias a criação de quintais produtivos.
Os Quintais Produtivos são sistemas que integram vários subsistemas, como jardim, hortas, plantas medicinais e a criação de pequenos animais, complementados com a compostagem e adubação orgânica. Para iniciar um quintal produtivo deve ser feita inicialmente uma leitura do espaço e de suas possibilidades de uso, com identificação das plantas úteis já presentes, das ervas nativas e dos animais que podem ser criados, do solo e da água disponíveis.
As possibilidades de combinar as várias espécies são infinitas e dependem do gosto e das necessidades de cada família, como plantas para enriquecer o sabor e o valor nutritivo dos alimentos, raízes, tubérculos, fruteiras, ervas medicinais, plantas ornamentais ou com outras utilidades. O resultado de um quintal diversificado é o aumento da produção de oxigênio, da absorção de carbono e também a conservação e perpetuação das plantas nativas. No seu conjunto, as plantas filtram a poluição, absorvem ruídos, diminuem a intensidade dos ventos, alimentam e abrigam os animais e regularizam a temperatura e a umidade. Adicionalmente o quintal produtivo gera uma sensação de bem-estar para a família ao tornar-se um local de convivência.[1]
O quintal produtivo era o primeiro passo para uma transição agroecológica!
Organizamos um curso de Agroecologia, levamos as famílias das duas aldeias para conhecer experiências que deram certo, organizamos aulas de campo e produzimos mudas. Agora era a hora de ver quem realmente se interessaria. Inicialmente um grupo de 08 famílias se interessaram pela proposta dos quintais.
E os resultados começaram a aparecer. De um local onde praticamente não se produzia nada além dos alimentos que citei acima, os indígenas passaram a produzir hortaliças que, além de suprir uma carência nutricional das famílias, passou a ser comercializada e garantir renda com algo produzido na própria aldeia. Segue abaixo algumas fotos que ilustram esses resultados.

Alface: Luciano e Evaldo fazendo a coleta para comercialização

Batata doce: plantio em meio às bananeiras e cajueiros
Berinjela
Cebolinha
Coentro
None
Pimenta de Cheiro
Pimentão (frente) e Tomate (atrás)
Urucum

           Além dos cultivos acima, os índios de Queimadas ainda produzem Couve Manteiga e iniciou um plantio experimental de Cenoura, Beterraba. Os indígenas agroecologistas também plantam e cultivam ervas aromáticas e medicinais como manjericão, anador e meracilina. 

             Mas a apropriação dos conceitos e práticas agroecológicas fez com que os índios fossem mais adiante, dando mais um passo na transição para uma agricultura ecológica. A necessidade de reflorestar e recompor a mata nativa, destruída durante o conflito com o DNOCS, e as possibilidades advindas de um manejo sustentável através do consórcio de espécies frutíferas, medicinais e lenhosas foram fatores que estimularam as famílias a dar mais um passo: a implantação de Sistemas Agroflorestais. Mas isso fica para o próximo post. 



[1] Cartilha Agroecologia colocada em prática. Fortaleza: Fundação Conrad Adenauer, 2006. disponível no Portal Agroecologia.


Um comentário:

  1. claudia s.cantanhede17 de agosto de 2012 às 12:09

    achei muito bom esse projeto, bom seria se todos governantes tivesse essa atitude para ajudar as familias a sairem da pobresa e da uma vida digna as mesmas

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