sábado, 30 de novembro de 2013

Uma homenagem a Seu Cecídio

Seu Cecídio em sua casa, maio de 2013
Foto: acervo pessoal

Hoje está sendo um dia difícil, triste para as famílias tremembé de Queimadas. Infelizmente, um câncer na próstata venceu Seu Cecídio, que "tombou" e nos deixa aos 86 anos. Apesar de todo o sofrimento vivido por essa gente, a alegria e o bom humor eram características constantes na vida de Seu Cecídio. Sempre nos recebia com um sorriso doce e um carinho paternal.
Sua vivacidade era outra característica marcante. Até bem pouco tempo (pouco tempo mesmo), organizava e era o mestre do Reiso, tradição festiva dos Tremembé de Queimadas que exige muita força e disposição, sobretudo para os sapateados, ponto alto da brincadeira.
Além de brincante do Reiso e do Torém, Cecídio era um pé de valsa, dançava forró com desenvoltura. Nas vezes que o vi forrozeando, lembro que ficava admirado com seu desempenho e elasticidade, apesar de seus 80 e poucos anos.
Conversador, não declinava do convite, ou mesmo da missão, de contar a história de sua família e da saga que seu povo percorreu até se consolidar na terra onde até hoje vivem. Desde a chegada de sua família, liderados por seus pais, Manoel Ferreira do Nascimento e Maria Conceição do Nascimento, já se vão 86 anos de ocupação em Queimadas.
Durante o processo de identificação dos Tremembé de Queimadas e da luta pela permanência na terra que ocupam tradicionalmente, Seu Cecídio foi personagem fundamental na condição de “especialista da memória” e das histórias do seu povo. Cumpriu com maestria a função que sua comunidade lhe designou. Junta-se à galeria das autoridades tremembé como João Cosmo, Nelson Custoso, Antonio Félix, Zé Tonheza e tantos outros que, além de “encantados” são também símbolos da história local. Seu Cecídio já virou monumento, sua fala já é história!
Me sinto privilegiado por ter convivido com ele e poder registrar algumas de suas histórias.
Cecídio Ferreira do Nascimento, foi um imenso prazer conhecê-lo.
Saudades eternas!
Minha última entrevista, durante o trabalho de campo, maio de 2013
Foto: Carol  Nascimento

Em sua casa, setembro de 2009
Foto: Tiago Silva
Dançando forró com sua sobrinha, Maria de Lourdes, dezembro de 2009
Foto: acervo pessoal
Durante o GT da FUNAI em Queimadas, março de 2010
Foto: Dirceu Melo
Ao lado dos irmãos João e Manoel Félix: eternos arengueiros!
Foto: Dirceu Melo



sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Documentário sobre o curso de Ciências Sociais da UEVA fala sobre os Tremembé

O documentário Ciências Sociais UVA (1998/2013): 15 anos de curso em revista registra a história de criação do curso em questão, no ano em que ele debuta. Para isso, professores e ex-professores fazem um balanço das atividades desenvolvidas pelo curso ao longo desse período. Além disso, o documentário aborda a inserção profissional dos ex-alunos e a atuação em várias áreas.
Fui um dos entrevistados e relatei um pouco sobre minha experiência de trabalho com os Tremembé de Telhas e Queimadas. Nesse contexto, alguns indígenas foram entrevistados e também deram seus depoimentos.

Para os interessados em assistir é só clicar AQUI


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Índios Tremembé de Almofala poderão receber Projeto Mandalla

João Venâncio, João Filho, José Ximenes, Tiago Silva e Everthon Damasceno
Foto: Ronaldo Santiago

O coordenador estadual do Projeto Mandalla da Secretária do Desenvolvimento Agrário do Ceará – SDA, José Ximenes de Farias Junior, esteve realizando uma visita técnica na comunidade dos Tremembé de Almofala. O objetivo da visita consistiu em analisar a viabilidade da construção de uma mandalla nas imediações da escola indígena local.

As articulações se iniciaram a partir do interesse do cacique João Venâncio pelo Projeto Mandalla. De acordo com a liderança indígena, a construção de uma mandalla na escola diferenciada indígena vai possibilitar, além da geração de trabalho e renda para algumas famílias indígenas, a criação de mais um espaço pedagógico de construção de saberes, onde os alunos terão a oportunidade aprender na prática conhecimentos ecológicos e produtivos: plantio e cultivo de ervas medicinais, hortaliças e frutas, além da criação de pequenos animais como galinhas, patos e peixes, produzidos de forma integrada no sistema de produção mandalla.

O representante da SDA teve a oportunidade de dialogar com o cacique sobre os trâmites burocráticos e sobre os processos de formação que envolve a construção da mandalla. A proposta é que a implantação em Almofala se torne uma experiência piloto, posteriormente replicada nas outras aldeias tremembé.

Registro ao final da visita. Da esq. para dir.: Everthon, Ronaldo, Tiago, João e Ximenes
Foto: João Filho


domingo, 22 de setembro de 2013

Nota para o/as amigo/as que não trabalham com povos indígenas e nem são antropólogo/as

Fonte: Blog APIB

Compartilho abaixo, carta do colega antropólogo Henyo Trindade Barreto Filho. Leitura importantíssima!


Querido/as.

A Constituição Federal completa 25 anos no próximo dia 05 de outubro – quando eu, por força dessas coincidências do devir, inteiro 48 anos. Uma Constituição construída não pela “intenção do legislador” – como dissimula o juridiquês; mas pela resistência e luta dos que pelejaram pela democratização do país, em especial das associações, dos sindicatos, dos movimentos sociais e populares. Uma Constituição que, à época, o PT não assinou, por considerar – como muitos de nós – que ela poderia ter sido ainda mais ousada, mais avançada e mais cidadã, incorporando as propostas oriundas das ruas, das emendas populares – como a figura de desapropriação por interesse social, pedra de toque do que poderia ter sido uma reforma agrária. Vinte e cinco anos são uma geração. Tempo suficiente para todos nós termos amadurecido e reconhecermos, hoje, o significado e as repercussões da nossa lei maior para a consolidação de muitos direitos (humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) nos marcos regulatórios infraconstitucionais, que estão na base de muitas conquistas atuais.

É assim que na semana de 30 de setembro a 05 de outubro próximo, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) está convocando uma mobilização nacional em defesa da Constituição Federal (ver http://mobilizacaonacionalindigena.wordpress.com/2013/08/26/12/) contra o mais organizado e sistemático ataque que ela está sofrendo desde a sua promulgação há 25 anos atrás. Um ataque articulado por poderosíssimos grupos econômicos contra os direitos constitucionais de grupos vulneráveis e subalternos: os povos indígenas, os quilombolas, outros povos e comunidades tradicionais; e, se pudermos dizer assim, contra os direitos da natureza, da própria biodiversidade. Um ataque articulado por representantes do agronegócio, do hidronegócio e das grandes corporações do setor de energia e mineração, que contam ora com o apoio explícito, ora com a omissão, ora com a conivência e/ou cumplicidade envergonhada do atual governo, e que visa desconstituir os territórios da diversidade no país para abri-los ao jogo dos seus interesses e à sua exploração. São um conjunto tão grande de medidas legislativas e executivas, que se eu começasse a enumera-las aqui, demoraria alguns dias para listar todas e explicar os seus significados subjacentes e repercussões. Conto com a curiosidade e inteligência de vocês para ir atrás das informações, a partir do que já consta no blog acima mencionado.

Assim sendo, não se enganem: a semana de mobilização nacional que está sendo convocada pela APIB não se destina a defender direitos de segmentos específicos da sociedade, como se tratasse uma luta parcial, paroquial e corporativa. O que está em jogo é um processo de mudança no nosso marco regulatório maior articulado à mudança de outros “códigos” – algumas já dadas como concluídas (como os casos dos Códigos Civil e Florestal) e outras ainda em curso (como o caso do novo Código de Mineração) – que visa transformar de modo substantivo o substrato do país em que vivemos. Por conseguinte, na primeira semana de outubro, nas mobilizações de indígenas, quilombolas e outras pela manutenção de seus direitos constitucionais, uma concepção de país estará em jogo.

O poder hegemônico aposta em um país composto como uma colcha empobrecida de meia dúzia de retalhos mais ou menos homogêneos (pastos ineficientes e/ou degradados, desertos verdes de eucalipto e soja, lagos de hidrelétricas, montanhas reviradas em minas a céu aberto, lagos de decantação de rejeitos minerais e petrolíferos), costurados por uma rede de eixos de integração (dutos inseguros de diferentes tipos, estradas mal pavimentadas, hidrovias em rios assoreados), desenhando um futuro ancorado em uma economia primarizada e no extrativismo industrial de baixo input tecnológico (exploração intensiva dos recursos naturais e extensiva da terra), e dependente de uma legislação flexível que reduza seus custos de transação. Esse cenário é o deserto do real, no qual temos muito pouco a aprender e compartilhar; apenas a mimetizar e a reproduzir como ventríloquos autômatos. Economia perdulária e da escassez.

Por sua vez, os “grupos participantes do processo civilizatório nacional” (assim a Constituição os definiu em seu Art. 215), em sua grande maioria subalternos, vulneráveis e em situação de risco direto – por viverem nos sítios em que se materializam tais grandes empreendimentos – nos convidam a pensar um país cujo vigor se baseia na riqueza dos seus territórios de diversidade. Diversidade esta que se expressa em ecossistemas vitais, em múltiplas expressões culturais, em distintos regimes de conhecimento, em tecnologias resilientes e austeras, em variadas histórias de formação, de adaptação aos seus nichos e de identificação com seus territórios existenciais. Nesse cenário se descortina um universo de possibilidades, de aprendizados e de trocas, nos quais há vozes a serem ouvidas, desejos a serem partilhados, novas subjetividades a serem construídas – enfim, uma civilização a se reinventar. Economia da suficiência e da abundância.

É isso o que já está em jogo e estará em evidência na primeira semana de outubro, como parte das “comemorações” dos 25 anos da Constituição. Não se pode deixar que este jogo seja jogado segundo as regras do maquiavelismo raso e de realpolitik ordinária, que já tomam conta do nosso cenário político a um ano das eleições majoritárias. Deixar que isso ocorra, resignar-se ao status quo, é aceitar que os direitos desses grupos sejam imolados como moeda de barganha nas negociações rasteiras já em andamento para a manutenção dos diferentes projetos de poder – que não se confundem com projetos de país. Deixar de aderir à mobilização e abdicar de se manifestar em apoio a esses grupos na primeira semana de outubro (e além) é rebaixar-se a cúmplice da negociação de direitos humanos fundamentais entre atores que já têm tudo, mas para os quais nada basta. Como já antecipava Epicuro, “nada é suficiente para quem o suficiente é pouco”; por isso esses setores estão, agora, almejando os territórios da diversidade.

Estou certo de que nenhum/a de vocês quer isso e encontrarão o caminho para manifestar seu apoio e sua solidariedade àquela que promete ser uma das lutas mais relevantes que travaremos nas próximas décadas nesse país – pois ela não começou agora e nem se encerrará em outubro próximo.

Conto com vocês, a quem envio meus abraços fraternos e solidários.


Henyo

Fonte: Blog APIB

terça-feira, 27 de agosto de 2013

X Marcha do Povo Tremembé

Imagem: Comissão Organizadora

O Povo Tremembé do Aldeamento de Almofala tem a honra de convidar aos parceiros e amigos que apoiam o Movimento Indígena para participar da X MARCHA DE RESISTÊNCIA E AUTONOMIA DO POVO TREMEMBÉ EM PROTESTO A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E IMPLANTAÇÃO DE PARQUES EÓLICOS NO ALDEAMENTO DE ALMOFALA, que acontecerá no dia 07 de Setembro de 2013, na Escola Maria Venância, Praia de Almofala, Itarema - CE.



Programação da Marcha do dia 07 de setembro

Horário
                                                Atividades
08:00
Chegada das comunidades e parceiros.
09:00
Início das brincadeiras: Corrida de Pedestres (01 menino e 01 menina de cada escola que tenham até 1m; 1.30m e 1.60m), Cabo de Guerra (06 meninos e 06 meninas de cada escola que tenha até 1.70m), Pote (01 menino de cada escola), Pular de Corda (03 meninas de cada escola que tenha de 08 à 12 anos), Arremesso de Lança (01 menino e 01 menina de cada escola).
12:00
Almoço dos participantes (OBS: Cada participante se responsabilizará pela sua alimentação.)
13:00
Desfile de 03 representantes por escola: uma criança (entre 05 e 10 anos) um  adolescente (entre 11 e 18 anos) e uma liderança das mais velhas.
16:00
Saída da Escola Maria Venância em direção ao centro de Almofala. Durante o percurso da X Marcha acontecerá dois momentos de concentração: um no Cemitério (momento sagrado em memória dos nossos antepassados) e o outro em frente à igreja de Almofala (leitura das faixas em protesto a Degradação ambiental e a implantação de parques eólicos no Aldeamento de Almofala).
19:30
Batizado Indígena, Banda de Música de Itarema, Cordão Caroá, Dança do São Gonçalo dos Anacé, Brincadeiras com um Palhaço de rua e o Torém.


Comissão organizadora: Professores da Escola Maria Venância.
Contatos: (88)3667 2111 ou 3667 2059
E-mail: tuliotremembe@gmail.com; cleidianetremembe@gmail.com

domingo, 11 de agosto de 2013

V Assembleia do Povo Tremembé

Torém nas dunas do Mundaú
Foto: Ronaldo Santiago
O Povo Tremembé dos três municípios (Acaraú, Itarema e Itapipoca) esteve reunido para a V Assembleia do Povo Tremembé, espaço máximo de discussão e deliberação das demandas da etnia. O evento ocorreu entre os dias 29 e 31 de julho na aldeia São José, Terra Indígena Barra do Mundaú, em Itapipoca.
Nos três dias do evento, pautas como saúde indígena, educação e situação fundiária dos Tremembé dominaram as discussões nas mesas. As lideranças discutem os temas, apresentando a realidade operacional das políticas indigenistas nas aldeias e a partir das discussões elaboram propostas e encaminhamentos aos órgãos públicos.
Além das três pautas, os Tremembé também debateram sobre os desafios de manter as tradições, rituais e conhecimentos indígenas através das novas gerações, principalmente diante das transformações culturais e tecnológicas que adentram às aldeias. Um fato a se destacar é a presença majoritária de jovens no evento, muitos deles professores das escolas indígenas.
As lideranças Tremembé também discutiram sobre a situação da CTL de Itarema. Diante da precariedade e falta de estrutura para funcionar a contento, foi elaborado um documento a ser enviado para a coordenação regional solicitando recursos e pessoal técnico para que a CTL possa atender efetivamente às comunidades Tremembé dos três municípios.
Entre os participantes externos, o evento contou com representantes da 3ª CREDE (Acaraú), SESAI, Prefeitura de Itapipoca, Missão Tremembé, além de pesquisadores e parceiros dos Tremembé.
Um dos momentos mais marcantes aconteceu na terça-feira, ao cair da tarde, quando os participantes da assembléia, capitaneados pelo cacique e o pajé, subiram as dunas e fizeram um grande torém que contou com a presença de mais de cem pessoas.
Ao final do evento foi elaborado um relatório final discorrendo sobre as pautas discutidas e os encaminhamentos que serão tomados pelas lideranças indígenas. Publicaremos no blog assim que o documento for concluído.
Ficou decidido que a próxima Assembléia Tremembé será realizada no Córrego João Pereira, na aldeia São José.
O evento finalizou com a noite cultural, onde as crianças das comunidades de São José, Buriti, e Córrego João Pereira apresentaram danças e versos de cordel. Além da apresentação juvenil, o torém e a dança do caçador fecharam a programação da noite.

Assembleia realizada no acampamento construído após retomada
Foto: Ronaldo Santiago

Erbene, liderança local, dando boas vindas aos participantes da Assembleia
Foto: Ronaldo Santiago

Foto: Ronaldo Santiago
Foto: Ronaldo Santiago

Torém, 30/07/2013
Foto: Ronaldo Santiago
Torém, 30/07/2013
Foto: Ronaldo Santiago
Torém, 30/07/2013
Foto: Ronaldo Santiago
Zé Canã e Erbene (São José/Itapipoca)
Foto: Ronaldo Santiago
Cacique João Venâncio, Florêncio e Chico Izídio
Foto: Everthon Damasceno

Vice-Prefeito de Itapipoca
Foto: Everthon Damasceno

Lideranças Tremembé, liderança quilombola e vice-prefeito de Itapipoca
Foto: Everthon Damasceno
 
Torém infantil
Foto: Everthon Damasceno

Noite do dia 31, accampamento
Foto: Everthon Damasceno

Dança do Caçador
Foto: Everthon Damasceno

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Interculturalidade, ecologia e organiização política indígena marcam I Ciclo de Vivências com os Tremembé de Telhas

Foto: Caroline Moreira

Entre os dias 18 e 21 de julho, os Tremembé de várias localidades, pesquisadores, estudantes e professores estiveram participando do I Ciclo de Vivências na aldeia Tremembé de Telhas. Como foi informado na postagem anterior, o evento surgiu como desdobramento do projeto voltado para mulheres indígenas, financiado pela Carteira Indígena.

No entanto, novas demandas postas pela comunidade anfitriã, junto com outras proposições, ampliaram a proposta original do evento, que previa a realização de um encontro de mulheres, um seminário e uma assembléia geral para balanço das atividades do projeto. A comunidade organizadora, com o apoio de técnicos e instituições parceiras, deliberou pela realização de um evento que pudesse ao mesmo tempo: realizar as atividades do projeto citado; possibilitar um espaço para vivências entre o povo Tremembé de várias aldeias, não-índios interessados em conhecer a realidade indígena local e também dar visibilidade às comunidades Tremembé.

O evento foi realizado através da parceria entre os conselhos indígenas de Telhas e Queimadas, que mobilizaram as respectivas aldeias para participar da programação do evento. Além disso, tivemos a presença de representantes das comunidades Tremembé do Capim Açu, São José, Almofala e Varjota. Destaque para a participação do Cacique João Venâncio e do Pajé Luis Caboclo, presentes durante todo o evento.

Além das atividades programadas no projeto, foram incluídas oficinas ecológicas de bioconstrução (reboco e pintura natural), no intuito de que tanto os indígenas quanto  os demais participantes pudessem reconhecer o valor e a riqueza dos materiais disponíveis na própria terra indígena, de modo a valorizar os conhecimentos locais no que se refere às construções tradicionais, como também minimizar os custos com a construção das casas e outros prédios. Além disso, outros componentes relacionados ao design das habitações foram trabalhados com os participantes.


Abertura com o Seminário de Inclusão Produtiva (18/07)


























Torém, 18/07/2013
Foto: Ronaldo Santiago
 
Momento teórico da oficina de bioconstrução, 19/07/2013
Foto: Iago Barreto
Preparando a massa do reboco com o barro
Foto: Iago Barreto
Botando a mão na massa, literalmente
Foto: Iago Barreto
Dona Maria rebocando
Foto: Iago Barreto

Homens e mulheres participando do trabalho
Foto: Iago Barreto
Com relação á pintura, os Tremembé puderam ensinar a produção de tintas naturais cuja base são folhas, sementes e cascas de árvores existentes no próprio local. Ao mesmo tempo, tiveram a oportunidade de aprender outras técnicas de produção de tintas e de pintura em diversos ambientes. Além disso, os Tremembé foram estimulados a produzir grafismos levando em consideração os elementos naturais, culturais e cosmológicos de suas próprias localidades.
Essa atividade foi importante, sobretudo, porque envolveu jovens, homens e mulheres que participaram efetivamente da parte teórica e prática, proporcionando momentos de muita interação, bom humor e aprendizado. O objetivo principal das oficinas é o de reformar a Tapera do Artesanato, espaço instituído pela comunidade local para a produção do artesanato, geralmente realizada de forma coletiva. Além disso, o local abrigará também a sede do Conselho Tremembé de Telhas. Como não foi possível concluir a reforma da Tapera, os participantes exercitaram as técnicas de pintura mural na escola da aldeia.

Momento de construção de símbolos e grafismo indígena com o instrutor André
Foto: Iago Barreto
Foto: Iago Barreto

Preparando tintas naturais
Foto: Iago Barreto

Foto: Iago Barreto
Foto: Iago Barreto

Juventude indígena exercitando a pintura
Foto: Iago Barreto

Arte coletiva
Foto: Iago Barreto
A programação contemplou espaços de articulação dos Tremembé, de discussão sobre a política indígena e indigenista e sobre os resultados dos projetos desenvolvidos ao longo dos últimos quatro anos nas aldeias de Telhas e Queimadas. No Encontro de Mulheres, os convidados discorreram sobre os espaços que as mulheres indígenas estão conquistando ao ocuparem funções nas associações e conselhos indígenas, como também nas atividades produtivas, desempenhando papel de destaque na renda familiar. Ceiça Pitaguary, palestrante da noite, enfatizou que a luta das mulheres indígenas já é bem antiga, mas que nos últimos anos tem conquistado mais espaço. Exemplo disso foi o edital da Carteira Indígena direcionado especificamente para as mulheres, no qual Telhas e Queimadas tiveram seus projetos aprovados.
Além das rodas de conversa e das discussões temáticas, um dos momentos mais esperados era o do torém, brincadeira de todas as noites e que mobilizou os Tremembé de várias aldeias e demais participantes do evento. Seu Miguel Arcanjo, morador da aldeia São José disse que brincaria até o amanhecer se o torém continuasse. A alegria dos Tremembé contagiou todos os presentes.

Cacique João Venâncio iniciando com uma oração, 18/07/2013
Foto: Caroline Moreira

Encontro de Mulheres Tremembé, 19/07/2013
Foto: Iago Barreto
Comunidade indígena reunida
Foto: Iago Barreto
 

Ceiça Pitaguary (APOINME), palestrante da noite, 19/07/2013
Foto: Iago Barreto
Pajé Luis Caboclo palestrando, 19/07/2013
Foto: Iago Barreto
Cacique João Venâncio falando sobre a política indigenista, 20/07/2013
Foto: Iago Barreto
João Venâncio e Isabel, Coordenadora do CITCT
Foto: Iago Barreto
Torém, 20/07/2013
Foto: Iago Barreto
Torém, 20/07/2013
Foto: Iago Barreto

Torém, 20/07/2013
Foto: Iago Barreto
O sucesso do I Ciclo de Vivências com os Tremembé foi uma das pautas da assembleia geral realizada no domingo pela manhã. O cacique João Venâncio propôs que o evento fosse realizado todos os anos, e de forma itinerante, de modo que todas as aldeias Tremembé tenham a oportunidade de sediar o evento.
Além disso, as lideranças da comunidade anfitriã formularam uma carta de reivindicações, a ser anexada ao documento da Assembleia do Povo Tremembé que acontecerá entre os dias 29 e 31 de julho. Entre as reivindicações, os Tremembé solicitam ao MMA e a FUNAI a continuidade e o fortalecimento da Carteira Indígena, programa governamental de fundamental importância para os povos indígenas. Água potável, unidade de saúde e construção de uma escola são pautas antigas da comunidade de Telhas, mais uma vez reivindicada.
O resultado desses dias na presença dos Tremembé, conhecendo e vivendo um pouco de seu cotidiano, é a constatação da “biodiversidade do povo Tremembé” (fala do cacique João Venâncio) que o torna fascinante, tanto para quem já conhece um pouco da história desse povo, mas que a cada dia aprende e se encanta um pouco mais com essa gente, como também para aqueles que tem o privilégio de ter os primeiros contatos. São experiências como estas que nos fazem estar ao lado dos povos indígenas em suas lutas e pleitos.
Abaixo seguem os depoimentos de alguns participantes sobre as impressões e experiências sobre o Ciclo de Vivências Tremembé.


O ambiente da comunidade de Telhas tornou-se familiar a mim em menos de 24 horas. E em mim ficou também um sentimento de pertença bastante familiar em comunidades indígenas. Eu ralei jenipapo num ralador enorme e (muito) amolado. Não foram poucas as vezes que os dedos esbarraram nas pequenas lâminas... Mas pela primeira vez senti orgulho das cicatrizes e das manchas escuras que ganhei nas mãos. De fato, são marcas que demoram para sair; e que bom, porque são lembranças vivas de uma experiência que está causando em mim transformações irreversíveis... E inevitáveis. Por isso compreendi o que Filipe, oficineiro de reboco natural, disse no encerramento acerca das marcas nas mãos enquanto lembrança porque senti algo que acredito ser bem semelhante.
A energia emanada durante uma roda de torém não pode ser explicada em sua totalidade a quem não a vivenciou. É mais do que o ápice do sentimento de pertença. É uma sensação (ou emoção...) de força imensurável que nos remete à presença de uma memória ancestral sendo compartilhada. Os índios cantadores e tocadores no centro da roda fazendo música ao som de maracás e instrumentos de percussão e nós todos dançando em círculo, girando no sentido anti-horário com passos curtos, no meio da noite, à meia luz... 
E em meio a oficinas, grandes e pequenas rodas de conversa, risos, torém... O que foi melhor? Não é possível dizer porque tudo foi incrível. De volta a Fortaleza, fui dormir feliz; ainda junto à minha constante inquietude, pela qual hoje em muitos momentos sou grata. Mas agora se uniu a ela uma sensação gostosa de ter encontrado e construído vínculos com gente de verdade, de coragem e amor pelo que faz.
Aline Rebouças, estudante de Psicologia / UNIFOR e membro do MUVIC


Devo dizer que o I Ciclo de Vivências na Aldeia Tremembé de Telhas, a meu ver, foi uma experiência exitosa, tanto do ponto de vista organizacional, quanto da participação das pessoas. Os responsáveis pela ideia e pela organização instigaram à participação, articulando as rodas de conversa e incentivando jovens indígenas a participarem das oficinas de pintura e de permacultura, o que enriqueceu sobremaneira esse evento.
A participação da comunidade e de outras vizinhas também foi bastante positiva, fomentando o desejo de realização de evento similar nessas comunidades. Frutos com certeza virão e serão generosos, trazendo benefícios sociais, políticos e econômicos para as comunidades envolvidas.
Antonio Neto, Coordenador da CTL-FUNAI/Itarema


O Ciclo de Vivências foi, além de uma etapa cumprida do projeto, um acontecimento que fará parte do nosso dia-a-dia. E o mais importante foi o resgate de conhecimentos tradicionais que até o momento não tínhamos noção de fazê-lo acontecer, sem contar com o principal: tudo material natural, disponível na nossa aldeia.
Rosiane Tremembé, secretária do CITCT


Tive a minha segunda experiência em terras Tremembé. Dessa vez, na aldeia de Telhas, em Acaraú, para o I Ciclo de vivências (dessa Aldeia e também de Queimadas). A programação do evento encaixou-se em harmonia nos dias que se desenrolaram e tinha ênfase na organização das mulheres para a confecção do artesanato em biojóias e também nas formas das comunidades se relacionarem com o meio ambiente para garantirem a produção e reprodução de suas vidas. Demonstrando que proteção do meio ambiente não significa deixa-lo intacto, mas relembrar que também somos parte dele e podemos nos relacionar em simbiose com o mesmo. E essa relação, que é de transformação de ambos, é o que chamamos cultura, mas não qualquer cultura, não a cultura da opressão e do lucro, os Tremembé resistem, recriam, produzem e influenciam fazendo cultura. Esse foi o maior acúmulo do I Ciclo.
Depois da constatação dos retrocessos que o atual governo vem desenvolvendo para as políticas indígenas, era preciso renovar as esperanças e reaquecer a luta, e dançamos com alegria e força o último torém do Encontro. E para deixar ainda mais claro o que o I Ciclo representou, vale citar um índio mexicano e lutador: “que no caminhar dessa construção não deixemos de dançar, cantar e sorrir, que nos mantenhamos felizes apesar dos erros, problemas e desafios, das distâncias que separam geografias e calendários. Pois a construção desse novo mundo florescerá dos corações que hoje batem em rebeldia coletiva e que colocaram a girar a roda da história em seu longo caminho para, finalmente, adentrar na historia da humanidade”.
Repetindo alguma fala da avaliação do evento, torço para que os laços entre nós da cidade e os Tremembé se estreitem e possam contribuir com eles à altura do que eles contribuem para nós, nos ensinando a ser gente, nos fazendo relembrar a tradição que o colonizador quis apagar com sangue índio e negro derramado, mas para sua ira, persiste, resiste e se expande. Viva o povo Tremembé!

Leonísia Moura Fernandes, estudante de Direito / UNIFOR e membro do Muvic



A fotografia trabalha essencialmente com luz, usa para compor imagem e recortar detalhes. Fotografando os Tremembé, percebo que eles emanam luz própria, e que possuem a força simples que falta a cada vez mais complexa civilização. Em meio às dificuldades, o povo Tremembé se ergue e demonstra no torém e na vivência a sua razão de estar ali, puramente o viver, essa é a força simples.
A luz própria já é mais difícil aos olhos externos, ao dançar o torém me foi pedido que tirasse as sandálias para sentir a terra, um pequeno exemplo simples, da natureza luminosa dessas pessoas, que contada em exemplos não pode ser extraída para a lógica, não se pode entender plenamente o porquê dessa luz, somente no contato com a terra ou na vivência espiritual de alguns, mas é possível com bons olhos ver a luz que transborda aos olhos quando se convive com esses fantásticos indígenas.

Iago Barreto, estudante de Audiovisual e Novas Mídias / UNIFOR, membro do Muvic


Pessoal, agradeço os bons exemplos que se tornaram eternos nestes dias que passamos juntos.
A vida é feita de gente como vocês. Eficientes porque sabem fazer. Eficazes porque sabem como fazer e efetivas porque tem a durabilidade necessária para ser bem feita.
Continuo com a mesma felicidade do primeiro encontro e com a certeza que nunca mais vou ser guloso para não preocupar vocês. Abraço com gratidão!
Everthon Damasceno, produtor cultural



Agradecimentos:

  • Equipe de trabalho e organização do evento (cozinheiras, equipe de limpeza, pedreiros, serventes, voluntários, lideranças locais, comissão organizadora);
  • Conselho dos Índios Tremembé do Córrego das Telhas - CITCT;
  • Cacique João Venâncio;
  • Pajé Luis Caboclo;
  • Ceiça Pitaguary - APOINME;
  • Elaine Nascimento - CITQ;
  • Marcondes Marciano - CITQ;
  • Luis Gustavo - Carteira Indígena;
  • GATI;
  • Clóvis André;
  • Filipe Andrade;
  • Vereador Nacélio Cruz (Pres. Câmara dos Vereadores Acaraú);
  • Antonio Neto - CTL/FUNAI - Itarema;
  • Muvic;
  • Everthon Damasceno;
  • Iago Barreto;
  • Caroline Moreira;



Viva o Povo Tremembé!