sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Índios Tremembé de Itapipoca prendem servidores da FUNAI na TI. Barra do Mundaú

Servidores da FUNAI são mantidos reféns na TI. Barra do Mundaú. Entre eles, o chefe da CTL de Itarema, Jorge (de boné)
Fonte: facebook

Os índios Tremembé da terra indígena Barra do Mundaú, em Itapipoca, mantém sob seu domínio quatro servidores da FUNAI que se dirigiram ao local para participar de uma reunião com a comunidade indígena local. Entre eles está o chefe da Coordenação Técnica Local da FUNAI em Itarema, Jorge. Em carta divulgada nas redes sociais, os Tremembé justificam que esta atitude de manter os servidores detidos na aldeia foi motivada pela ausência de ações concretas da FUNAI, do MPF e dos órgãos de fiscalização ambiental diante do quadro de graves conflitos intensificados desde o mês de setembro, quando moradores não-índios que vivem no local atearam fogo no acampamento por duas vezes, destruíram casas e desmataram áreas dentro da TI. Há suspeitas de que essas pessoas, contrárias à demarcação da terra indígena, estejam sendo influenciadas por pessoas ligadas ao grupo que tenta construir um resort de luxo em área que incinde sobre a terra indígena. De acordo com Erbênia Rosa, “No dia 10 de setembro, queimaram as barracas e, um mês depois, um grupo de 15 homens armados chegaram à aldeia, derrubaram a cerca e uma casa de alvenaria que tínhamos construído para as reuniões da associação. Eles chegaram com um advogado dizendo que era da empresa espanhola” (fonte: Jornal O Estado, 11/11/2014)). Desde então, os indígenas vem denunciando as agressões aos órgãos federais.

Barraca do acampamento de área retomada pelos índios sendo incendiada (outubro de 2014)
Fonte: facebook
Casa de alvenaria que servia como local de reunião dos indígenas sendo destruída (outubro de 2014)
Fonte: facebook
No último dia 12 de novembro, o MPF conseguiu, junto à Justiça Federal, uma liminar que suspendia a licença do complexo turístico Nova Atlântida Cidade Turística Residencial e de Serviços. De acordo com o documento, "a empresa deve se abster de realizar qualquer ato concreto que ameace ou perturbe a posse de integrantes da Comunidade Indígena Tremembé de Barra do Mundaú, sob pena de aplicação de multa" (veja mais detalhes AQUI).
A decisão da justiça parece não ter intimidado proprietários e não-índios que vivem na área, ao contrário. Nas últimas semanas as principais lideranças indígenas do local receberam ameaças: “Entramos em contato com os Direitos Humanos, que enviou policiamento para nos proteger. Estamos em um momento difícil, escutamos a todo instante que estamos juradas de morte”, afirmou Erbênia ao jornal O Estado.
Em setembro as lideranças locais Adriana Carneiro e Erbene Rosa gravaram um depoimento onde relatam a resistência dos Tremembé da Barra do Mundaú e a luta deste povo para manter seu território (veja o vídeo AQUI).
A comunidade indígena em passeata realizada em novembro de 2014
Fonte: Julivan Veríssimo (facebook)

Cumpre assinalar que o relatório circunstanciado da TI Barra do Mundaú já foi concluído desde 2012 e o processo de demarcação encontra-se paralisado por determinação do Ministério da Justiça.
Não obtendo respostas concretas dos órgãos competentes, os Tremembé tomaram uma atitude extrema e prenderam os servidores da FUNAI que participavam de uma reunião na terra indígena e afirmam que só vão liberá-los quando tiverem uma resposta dos órgãos federais envolvidos do caso.
Veja abaixo o relato das lideranças divulgado nas redes sociais:

"Nós índios da Terra Indígena Tremembé da Barra do Mundaú, Itapipoca-CE, vem sofrendo constantes invasões, desmatamentos e ameaças desde Setembro do corrente ano na aldeia São José, diante disso já recorremos a FUNAI, Ministério Público e IBAMA, mas até o momento nenhuma posição foi tomada, resolvemos tomar uma atitude. Hoje pela manhã chegaram em nossas aldeias quatro representantes da FUNAI e as aldeias já estavam organizadas no acampamento para ouvir o que tinham a nos dizer e após ouvi-los o povo Tremembé de Itapipoca resolveram que esses representantes irão sair da aldeia somente quando tiver uma posição dos Orgão Federais citados acima. Pedimos apoio aos nossos parentes e demais orgão que nos apoiam para nos fortalecer nesse momento".


domingo, 21 de setembro de 2014

Etnologia Indígena na UVA/Sobral: Cacique João Venâncio e Pajé Luis Caboclo ministram aula sobre a história tremembé



Gostaria de agradecer publicamente ao cacique João Venâncio e ao pajé Luis Caboclo, do Povo Tremembé (como gostam de ser identificados), pela aula de história e etnologia proferida no último dia 18 para os alunos do curso de Ciências Sociais da UVA (a grande maioria deles, recém egressos no curso).
Pela atenção da plateia durante a fala das duas lideranças indígenas, pelas dúvidas, perguntas e debates suscitados ao longo desse encontro que, se não fosse pela limitação do tempo se estenderia ainda mais, ficou evidente a importância desse tipo de encontro para tentarmos superar esse fosso de desconhecimento que ainda persiste em grande parte da nossa população acerca dos processos históricos protagonizados pelos povos indígenas ao longo desses cinco séculos de “Brasil”.
Como antropólogo, professor e indigenista, fiquei muito feliz porque pude ver um lado positivo do desconhecimento dos nossos alunos, aquele que se traduz em curiosidade que se abre para conhecer nossa “alteridade próxima”; quando se permite que esse outro (tão perto e ao mesmo tempo tão distante) possa falar de si próprio, desconstruindo visões, imagens e representações estereotipadas e anacrônicas.
Se levarmos em consideração que os Tremembé de Almofala constituem apenas uma parte da história desse povo (ainda temos os Tremembé do Córrego João Pereira, de Queimadas, da Barra do Mundaú, de Raposa no Maranhão), chegaremos a conclusão de que temos um longo caminho a ser trilhado se quisermos realmente saber a história indígena das dezenas de povos espalhados pelo nosso Ceará, para ficarmos só aqui no nosso estado (imagina no Brasil...).
Além do exercício de desconstrução, oportunidades como estas também nos mostram o fato de que os capítulos de nossa história sobre os índios pode e deve ser revista, reescrita e ampliada (e bote ampliada nisso).
Por fim, confesso que sou admirador de João Venâncio e Luis Caboclo pela maestria com que lidam com esses encontros e a maneira segura e altiva com que ocupam esses espaços, inclusive o espaço acadêmico, e com seu modo próprio comunicam sua mensagem. Tudo isso com muito bom humor e espontaneidade.
Não é por acaso que os dois são mestres, “mestres da cultura”...









Obs: Todas as fotos desta postagem são de Tiago Silva Bezerra

domingo, 14 de setembro de 2014

XI Marcha do Povo Tremembé

Os registros fotográficos abaixo são da XI Marcha do Povo Tremembé, realizada anualmente no dia 07 de setembro. Nesse ano de 2014 as lideranças responsáveis pela organização do evento resolveram homenagear as lideranças tremembé que já partiram para outro plano. É com a força desses encantados que as atuais lideranças levam adiante a luta dos Tremembé pela demarcação de suas terras e pela garantia dos seus direitos. Numa das faixas estava escrito: "Nossos encantados são os marcos vivos da luta do Povo Tremembé".
Um grupo de idosos abria o cortejo com uma grande faixa. Nela estavam as fotos de algumas lideranças homenageadas pela luta.
É digno de nota a bela atitude da organização do evento em contemplar nessa faixa não somente as lideranças de Almofala e Varjota, mas também das comunidades tremembé do Córrego João Pereira e de Queimadas. Veja o nome e a localidade de alguns dos homenageados:
  • Antonio Félix - Queimadas
  • Cecídio Ferreira - Queimadas
  • Chico Mariano - Varjota
  • Dona Pequena - Almofala
  • Dona Doca - Almofala
  • Joaquim Bastião - Varjota
  • José Ferreira do Nascimento (Pajé Zé Tonheza) - Queimadas
  • Manoel Bastião - Varjota
  • Maria Socorro dos Santos - Queimadas
  • Maria Venância - Almofala
  • Raimunda Marques - Almofala
  • Rosa Suzana - São José/Córrego João Pereira
  • Zé Raimundo - Almofala

Algumas pessoas também vestiam uma camiseta com a foto de Manoel Félix do Nascimento, o Grosso, falecido em julho deste ano.
Além da marcha em si, os Tremembé organizam outras atividades durante o dia e a noite, entre elas o desfile da Miss Tremembé, o tradicional leilão e o bingo. A evento também teve a apresentação musical de Babi Fonteles (acompanhado de seus filhos) e Eliane Brasileiro. A noite foi encerrada com um torém no pátio da escola Maria Venância.

Obs: todas as fotos são de Iago Barreto

Faixa em homenagem aos encantados




Pajé Luis Caboclo


Cortejo


Cortejo


Retorno para a escola Maria Venância


Professor Getúlio Santos, liderança indígena de Almofala conduzindo a multidão


Linda indiazinha Tremembé


Miss Tremembé 2014


quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Professores da escola indígena de Queimadas fazem promovem aula de campo

Aluno da escola indígena de Queimadas fazem aula de campo na aldeia, conhecendo melhor a natureza que os rodeia, para melhor preserva-la, junto a professora indígena Deliane Nascimento conhecem a nascente do corrégo do amargoso que vem de uma lagoa encantada e as margens do corrégo.


sábado, 26 de julho de 2014

Adeus a Grosso Tremembé


Fonte: www.conexaonet.dihitt.com/

Os últimos dias foram de tristeza, mas também de alivio para a família da liderança indígena Manoel Félix do Nascimento, mais conhecido como Grosso Tremembé, falecido ontem, sexta-feira, após meses de luta contra um câncer. Após se submeter a várias sessões de quimioterapia, Grosso apresentou alguma melhora, mas nos últimos 15 dias seu quadro se agravou e foi liberado pelos médicos, já que sua situação não apresentava alternativas.
Eleito vereador pelo município de Itarema em 2012, Grosso Tremembé logo se destacou por sua atuação política e pelo carisma, despertando a admiração e o carinho não somente dos Tremembé, mas também da população do município. Em visita a Almofala, durante o período que lutava pela vida, pude constatar pessoalmente manifestações de solidariedade e de preocupação de vários moradores de Almofala. Nos últimos dias, a casa da família foi visitada por centenas de pessoas, desde parentes indígenas, moradores de várias localidades, até políticos locais.
Início do cortejo
Foto: Ronaldo Santiago

Cortejo até o cemitério
Foto: Ronaldo Santiago
Sepultamento
Foto: Ronaldo Santiago
Despedida
Foto: Ronaldo Santiago

Seu sepultamento ocorreu neste sábado, 26/07, no cemitério da comunidade da Varjota, local onde nasceu e viveu durante toda a sua vida. Centenas de pessoas, algumas delas visivelmente emocionadas, acompanharam o cortejo até o cemitério.
Nos solidarizamos com a dor da família, em especial, seu pai, o pajé Luis Caboclo, que com uma força indescritível e com resignação, acompanhou todos os detalhes do sepultamento do filho.
Como uma singela homenagem, transcrevemos abaixo alguns depoimentos de parentes e amigos que expressaram a dor pela perda e manifestaram seu carinho e admiração pelo amigo.

“Esse foi e vai ser sempre um grande homem, guerreiro, prestativo, humano, pessoa super do bem... Você fez historia, primeiro vereador indigena Tremembé, foi com muito esforço que conseguimos essa grande conquista. Com certeza você vai ser sempre lembrado como um grande vencedor! Hoje foi seu ultimo dia conosco em matéria, mas em nossos corações você vai permanecer eternamente”.
Lucinha Tremembé, agente de saúde e liderança Tremembé da Passagem Rasa 

"Amigos,
Com pesar, conformação e esperança, comunico a passagem do nosso amigo professor Manuel Félix do Nascimento, o "Grosso", filho do pajé Luis Caboco, neste dia, às 11h00, em sua casa, na comunidade tremembé de Varjota, Itarema/CE.
Ele foi um brilhante aluno do Curso de Magistério Indígena Tremembé Superior - MITS, destacando-se no estudo e no ensino da Matemática às crianças e jovens indígenas.
Foi presidente do Conselho Tutelar de Itarema e o primeiro vereador indígena da história do Ceará.
Era uma pessoa bem humorada, inteligente, amiga, solidária.
Grosso lutou bravamente contra um câncer. Nunca se entregou à doença, nem se intimidou diante da morte. Um exemplo de luta e solidariedade. Se fez querido unicamente por suas virtudes.
Sua partida, tão precoce, nos deixa um pouco tristes, mas também fortalece em todos nós, amigos do seu Povo, a certeza de que os Tremembé são uma gente guerreira, como eles mesmos dizem: "Nós brandeia, mas não arreia".
Um grande exemplo para todos. Até breve, amigo!"
Babi Fonteles, professor da UFC e coordenador do Magistério Superior Tremembé - MITS

“Vi meu bom amigo ser enterrado na areia, atras de sua casa. No mesmo solo em que nasceu, brincou, cresceu, trabalhou e viveu. Respeitando suas crenças e valores, foi enterrado sem esquife. Sem barreiras entre seu corpo e a terra que o alimentou.
Cavaram fundo a areia, como se pudéssemos enterrar junto com o seu corpo, a dor que a sua ausência impõem.
Grosso Tremembé me ensinou muitas coisas... Me ensinou a ter esperança, mesmo quando tudo diz o contrário.
Me ensinou que o respeito é maior que a aceitação.
Me ensinou que a força não depende do quanto você pode carregar, mas sim do quanto você pode compartilhar.
O pouco é muito.
Alguns consideraram o meu trabalho um esforço, mas acompanhá-lo em seu martírio foi um privilégio...
Agradeço a sua família por me cederem uma rede em sua varanda, sua tapioca e o peixe assado que me alimentaram durante estes quinze dias em que pude viver intensamente a dor e a luta deste nobre amigo.
Obrigado meu irmão.
Obrigado por me mostrar que a nossa força pode ser o que nos fragiliza, mas também é o que nos faz únicos, uns na vida dos outros”.
Rafael Sacramento, médico da equipe de saúde indígena Tremembé

sábado, 28 de junho de 2014

Experiências interculturais: alunos da UVA vivenciam aula de campo em Queimadas

Segue abaixo, depoimento da professora Amanda Silvino, do curso de Biologia da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA Sobral, relatando acerca da aula de campo realizada na aldeia Tremembé de Queimadas.

Ainda que nossa rica imaginação estivesse cheia de ideias sobre o que iriamos encontrar na aldeia dos Tremembé, todos nós fomos surpreendidos. Principalmente porque não importa quão rica seja nossa imaginação, o sentir não pode ser imaginado. Dor e felicidade, angústia e superação precisam ser vividos. Na vida acadêmica, o início de qualquer disciplina não tem nem de perto a alegria que recebemos quando iniciamos nossa grande aula na aldeia dos Tremembé de Queimadas. Senhoras, lideranças, crianças estavam lá sorrindo e esperando uma turma de vinte e oito alunos para compartilhar conosco conhecimentos, sentimentos, histórias e recordações. Fomos acolhidos com um lindo café da manhã, beiju, suco de frutas, café e bolo de milho.
Recepção na aldeia com café da manhã
Foto: Emanuelle Rocha
Acolheram-nos como nos colhem nossos avós, nos mostraram desde o inicio que somos o mesmo povo. Mas nossa história foi esquecida e enterrada. Minha avó, nascida em 1920 no interior do Piauí, em um lugarejo chamado Tocos, nunca viu nenhum índio segundo ela. Mas como eles, ela plantava milho, feijão, fazia artesanato de palha de carnaúba, cajuína e farinha de mandioca, cantava e dançava reisado, dormia em rede de tucum. Tantas coisas como eles, mas nenhuma memória. Na aldeia Tremembé eu tive a comprovação que as origens da nossa sociedade foram esquecidas e enterradas vivas. Fui ensinada a crer que índio era algo do passado, mas foi justamente em uma aldeia indígena que revivi momentos da minha criança feliz, de férias no interior de uma comunidade escondida no Piauí. Lá eu também sentava no chão para escutar lendas e mistérios das matas, que eram encantadas, que tinham vontade própria e caprichos.
Logo após nossa recepção, fomos com Elaine e Evaldo conhecer os quintais produtivos. Na aldeia o pessoal recebeu formação permitindo que conhecimento local associado aos conceitos de permacultura rendessem hectares de produção orgânica. Pudemos perceber o carinho com que a terra era tratada, reflorestada e manejada. Tocou-nos o orgulho que Evaldo sente em sustentar sua família com uma produção que não queima mais a terra e não usa mais insumos químicos.
Elaine e Evaldo (a direita) apresentam os quintais produtivos
Foto: Emanuelle Rocha

Evaldo falando sobre o sistema agroecológico de produção
Foto: Emanuelle Rocha

Além disso, Evaldo é um grande professor de agroecologia e fiquei feliz em ver os alunos da turma de Ecologia Geral vivenciando os conceitos de fertilidade dos solos, ciclo da água e dos elementos químicos, sucessão ecológica, germinação, funções da vegetação e fauna associada na regulação de pragas, manejo e ecologia de paisagens. E com muita atenção, Evaldo nos ensinou muito sobre sua ciência.
Depois de percorrermos a horta, os bananais, as áreas de reflorestamento, as plantações de pimenta de cheiro, e a lagoa desencantada, Evaldo nos levou até o Centro de Cura onde sua irmã Marluce nos recebeu. Ela é uma das médiuns que realiza os trabalhos de cura na comunidade, e com o poder dos Encantes, aconselha e encaminha a corrente de luz que cura casos de pessoas de muitos lugares do Brasil.
É a tradição dos ‘cabocos’ e o trabalho de cura é antigo, muito antigo. Marluce sabe sobre as correntes do mal, mas lá na casa de cura só se trabalha com a corrente do bem. Quando há trabalho não é permitido entrar de roupa curta, e lá não se fala ‘coisa ruim’. Marluce nos dizia o tempo inteiro que não tinha estudo, que ela não sabia de nada e não curava ninguém, que o poder é todo dos Encantes. São os Encantes que tudo sabem, tudo aconselham, promovem a cura, e foram muitos os casos de cura contados.
Pajé Marluce no Centro de Cura
Foto: Emanuelle Rocha

Já era mais de uma hora da tarde quando saímos da casa de cura para almoçar. Tivemos um banquete preparado pelas mulheres da comunidade: arroz com feijão, farofa de cuscuz, macarrão, carnes de porco, gado, galinha refogada, jerimum. A vontade era então de deitar em uma rede e simplesmente aproveitar o barulho das matas em uma sombra fresca. A temperatura do dia era amena e o clima chuvoso.  Mas nossa ‘siesta’ foi incrivelmente melhor!
Ao término do almoço caminhamos até a casa do Seu Manuel e Dona Rita Sabino e fomos acolhidos por um amor incondicional. Sentados à sombra da mangueira vimos seu Manuel declarar sua paixão à Dona Rita em mais de sessenta anos de casados.
Manoel Félix, Sebastiana e Rita Sabino narrando histórias da aldeia
Foto: Emanuelle Rocha

Ela é três anos mais velha que ele, e aos oitenta e nove anos nos contava como hoje eles vivem muito melhor do que antigamente. Já haviam passado muita fome e muito frio, mas a alegria de viver nunca foi perdida. Cantando cantigas do Torém, seu Manuel relembrava suas origens desde Aroeira, passando por Almofala, chegando à lagoa dos nêgo (Lagoa dos Negros) e depois na comunidade de Queimadas. Assim foi chamada por causa de uma grande queimada que havia ocorrido no local, e que não havia deixado nem um pé de planta em pé. Era tudo preto igual carvão. E lá ergueram uma palhoça, uma casa de pau-a-pique e finalmente o tijolo chegou. Para eles a situação hoje é muito melhor e ninguém passa mais a dificuldade já vivenciada. Sempre nos lembrando de que passar por dificuldade não é vergonha para ninguém e que a história tinha que ser contada.
A comadre de Dona Rita e Seu Manuel, Dona Sebastiana, mostrava as casas de tijolo construídas pelos mais novos e dizia: “tijolo é só ilusão, eu gosto mesmo é da minha casinha ali. Eu que levantei com minhas próprias mãos e é lá que eu preparo as garrafadas”.  Ela é uma das mulheres que aprendeu a medicina da mata e prepara os medicamentos para todo tipo de enfermidade.
Local onde Sebastiana prepara garradas
Foto: Emanuelle Rocha
Muita conversa e muita história dos mais velhos. História de amor de Seu Manuel e Dona Rita, forte para ajudar a superar uma situação de miséria que havia ficado no passado. Diante de tanta alegria perguntei se eles cantariam alguma música do Torém. Dona Rita mostrava tristeza apenas por não poder mais dançar a tradição dos Tremembé. A doença que a acometera limitou a movimentação do lado direito do seu corpo. Ainda assim, cantava com alegria as cantigas do Torém e seu Manuel, de pé, nos mostrava como era a dança.
Naquele momento o tempo parecia ter parado e nada mais existia no mundo, apenas a corrente de alegria que crescia o desejo de ficar, de aprender e vivenciar muito mais com aquela gente todo aquele encanto. Infelizmente chegou momento de partir.
Se despedindo...
Foto: Emanuelle Rocha

Com muito amor Dona Rita levantou-se de sua cadeira e abraçou cada um de nós, Seu Manuel acenava com a Mão, Dona Sebastiana nos convidava a voltar sempre que quiséssemos. Trouxemos conosco muito aprendizado, muita alegria e muito mais respeito a uma história que não é de outro povo, mas a nossa própria nos mostrada naquele momento. 

E na próxima lua clara seu Manuel fará um grande Torém no quintal de Dona Sebastiana, Dona Rita cantará as cantigas e os mais jovens, com a força dos Encantes, continuarão a tradição que um dia, sem mais ameaças, se mostrará livremente a cada um de nós.
Foto da turma em frente à escola indígena
Foto: Emanuelle Rocha

terça-feira, 27 de maio de 2014

Artesanato com palha (fibra) do tucum da aldeia Tremembé de Telhas

No mês de março do ano corrente recebemos a ligação de Samanta Petersen, jornalista da Revista Poti, publicação de Teresina, Piauí. Ela entrou em contato conosco com a finalilidade de obter informações sobre a experiência dos índios Tremembé na confecção dos artesanatos, pois estaria escrevendo uma artigo para revista citada. Enfim a matéria saiu e com muito atenção Samantha nos enviou o link da revista Poti. Atendendo ao seu pedido enviamos materiais, algumas fotos e falamos sobre a experiência do artesanato com essa palmeira e a sua importância socioambiental.

A publicação ficou muito boa. Visualmente agradável, sonoramente raiz, com textos objetivos e bem escritos. Vale a pena dar uma conferida.

Abaixo segue as páginas que foram publicadas na revista.







Para ver a matéria completa CLIQUE AQUI.

Parabéns a aldeia de Telhas. 

Agradecemos pela parceria do SEBRAE-CE, articulação de Itapipoca, por ter enviado como Consultor e Designer, Epitácio Mesquita, que contribuiu na confecção dos materiais.

Para

quarta-feira, 7 de maio de 2014

MEMÓRIA E TRADIÇÃO DOS ÍNDIOS TREMEMBÉ DE QUEIMADAS - ACARAÚ - CE

Neste dia 19 de abril de 2014, os índios Tremembé de Queimadas festejaram, o seu dia com grande festa na comunidade de Queimadas com a presença dos tremembé de Telhas, todo povo se reuniu em um grande torém, reisado e Forró. No evento tivemos vários visitantes de todas as comnunidades vizinhas, que apreciaram todo evento. A comunidade também festejou os dois anos de terra demarcada e oito anos de educação escolar indígena na aldeia.